Tenho um amigo muito querido que me diz que Cupido é um débil mental pronto a disparar o que não controla, sem nenhum sentido de orientação, sem a mais pequena réstia de bom senso e sempre disposto a alçar a patinha nas nossas pobres almas atingidas.
Suponho que tem razão.
Às vezes o Amor é como um miúdo tonto que fica preso nas teias e telas do Império. Basta a rispidez da vida para que desate a chorar e se desfaça.
Acredito, no entanto, que esperamos sem interrupção que este doidivanas nos surja de repente e que nos faça sentir o que no mais perdido de nós desejamos sempre: as coisas mais simples, mais claras, mais límpidas, essenciais e únicas, como terra, água, ar, noite, dia, casa, árvore, pássaro, livro, um cão e, apertado num jeans, um rabo lindo de nos fazer cair para o lado comovidas.
Cupido torna-se admirável sempre que nos agarra a mão e nos entrega a sensação de eternidade em troca de nada e nos faz sentir que somos, desde o princípio, naturalmente capazes da indiferença, mas que amar exige uma árdua aprendizagem.