17.7.24

A Gaffe "não sabe nadar yo"


A Gaffe já passou férias num país africano encantador e embora não tivesse visitado os bairros mais pobrezinhos - pois que o Hotel distava horrores desses lugares e não se encontraram guias com bom aspecto -, está em condições de confirmar que os africanos são uma gentinha amorosa e absolutamente nada dada a dar prova de nojentos.

A Gaffe fica sempre estarrecida quando vê aqueles africanos acusar a bosta da bófia de violência gratuita com laivos de racismo. Não sabendo muito bem o que é a bófia - embora reconheça a primeira componente da expressão como matéria-prima das televisões -, supõe tratar-se daqueles homenzarrões lindíssimos, musculados e fardados e armados, que a Mortágua condena veementemente, com só ela consegue veementemente condenar.

Meninos, não se bate naquela gente.

A Gaffe está decidida.

Vai imediatamente convidar uma das manas Mortágua - uma qualquer, porque tanto faz que são iguais e ninguém nota a diferença -, e Ventura para equilibrar e assim ladeada por estes extremos extremosos, para além de evitar levar uma bordoada lateral, vai parecer harmoniosa.

Os três, unidos como Abril mandou, provaremos que Portugal não é racista e que aqueles pobres africanos pretos também não. A Mortágua é só par contrariar. 

É um sacrifício que nos fica bem.

É evidente que esta rapariga não é o Marcelo. Não vai desatar a beijocar as nódoas negras daquela gente, nem vai tirar selfies, porque o cenário não tem uma luz em condições de figurar no Instagram - não havendo filtros, fica tudo imenso escuro -, mas vai valer a pena ser escoltada por aqueles mauzões gigantescos e repletos de escudos de acrílico que intervêm para apoiar as pessoas de boas famílias na caminhada a favor da diferença.

A Gaffe tem de provar que este país não é racista.

Já o declarou no facebook e já escolheu também por isso uma fotografia de um mocito com quem não se importava nada de estabelecer diálogo esclarecedor, mas reconhece que ao vivo, bem vestida, com o cabelo bem tratado, acompanhada por fotógrafos e com algum carinho no rosto, a natureza desta mensagem renovadora, apaziguante e cristã, se torna poderosa e faz mesmo com que se distingam de vez em quando os africanos uns dos outros.

A Gaffe admite a existência de um pormenor que exalta as pessoas pouco instruídas e que as leva a desatar aos gritos desagradáveis, acusando um país inteiro de conter raízes racistas.

A igualdade.

São todos iguais e esse é o detalhe que confunde as criaturas!

É assim que as pessoas brancas não conseguem distinguir um chinês de outro chinês, mesmo que estes dois piquenos estejam lado a lado.
As pessoas brancas não conseguem pronunciar os nomes dos pretos que - diga-se em abono da verdade -, também não se diferenciam uns dos outros. É impossível chamar pelo Matambukalé Tanrambureré sem termos de nos socorrer depois de um terapeuta da fala. Como pronunciar Pi-Chin ou Pi-Cho-Ti, ou mesmo Pi-La, sem pensar que vamos ser violadas? Como encontrar modo de articular Lakshmi Mahara Surya sem pensar que nos vão despejar açafrão no cabelo, nos vão tatuar uma porcaria em hena nas mãos - desidrata imenso -, ou nos vão tentar impingir uma rosa de plástico quando formos ao Saldanha?

A Gaffe tem conversado imenso com a senhora Årud Haakonssonhagebak, uma senhora norueguesa lá de casa - sem ser, c’est évident, a colaboradora doméstica, uma romena que nos maça horrores ao tentar fazer com que a percebamos -, que sempre diz que o racismo português é fake new, pois que não é viável acusar um povo tecido de heróis camonianos, que nunca levantou um dedo contra a senhora D. Isabel dos Santos e que no passado ofereceu novos mundos a um mundo de gentalha que nem sequer soube agradecer e que agora está convencida que temos obrigação de a acolher nos nossos lares e privacidades, de ser um povo pouco dado à diversidade.

Somos um povo que marca a diferença.

É tudo.

Então vá.