A Gaffe afirma que ser
ruiva é quase tão doloroso como conviver com o penteado de Donald
Trump e lembra às feministas que uma cabeleira da cor do fogo é tão limitadora
como qualquer soutien digno
de fogueira, e não compensa saber que Roma Antiga comercializava por mais altos
preços, dada a raridade, os escravos ruivos, pois que os velhos egípcios ateavam fogo
às cabeleiras ruivas para lhes destruir a cor.
Para
alguns, em tempos que não se apagaram de todo, ser-se ruivo seria padecer
de uma mutação genética. Talvez seja por isso que as abelhas
picam mais estas criaturas. Os insectos são muitas vezes aliados
a tolices humanas e, por sua vez, todas as tolices humanas nos vão
transformando em rastos de insectos.
Entre inúmeros
percalços, a Gaffe escolhe aqueles que tem sofrido estoicamente e
prontifica-se a acolher nos seus braços solidários a barba ruiva de três dias de Michael Fassbender.
Anotemos alguns pontos:
- Há sempre gente que sente necessidade de
nos avisar que estamos em extinção;
- Há sempre alguém que comenta a cor do nosso cabelo, seja onde
for, estejamos onde quer que seja;
- Há sempre um estranho que nos aconselha o melhor protector
solar que conhece;
- Há sempre alguém que
diz: – Olha! A
tua futura prole! – quando por nós passa uma criança ruiva;
- Há sempre alguém que nos pergunta se a cor do nosso cabelo é
natural, mesmo que isso seja tão óbvio que até doa;
- Há sempre alguém que
nos tenta impingir um outro ruivo;
- Há sempre alguém que nos tenta convencer que o nosso cabelo
não é vermelho, é alaranjado;
- Há sempre alguém que num dia de frio tenta ser engraçado e
finge aquecer as mãos no nosso cabelo;
- Há sempre alguém que
nos pergunta se somos parentes de um outro ruivo que passa;
- Quando coramos, perguntam-nos se nos estamos a sentir bem e
tentam medir-nos a febre;
- Quando sentimos que não vamos longe, porque a cor do nosso
cabelo nos prende;
- Somos marcadas no facebook em fotografias onde existem
objectos avermelhados ou cenouras e laranjas;
- Somos, mais tarde ou
mais cedo, as ruivas honorárias de qualquer
sociedade ou filarmónica;
- Deixamos de acreditar
que haja alguém a desejar ter um filho ruivo;
- Identificamo-nos mais
depressa com personagem ruivas da BD, mesmo as mais horríveis, e de imediato
com todas as personagens ruivas no cinema;
- Provamos que somos ruivas verdadeiras quando apanhamos um
escaldão dois minutos depois de termos chegado à praia, enquanto os outros
estendem as toalhas;
- Apanhamos um escaldão no Outono, mesmo à sombra;
- Ficamos demasiado
alegres quando nos cruzamos com um rapagão ruivo lindo de morrer;
- Respondemos sempre que
alguém grita RUIVA! Reagimos sempre,
porque pensamos que nos estão a chamar;
- Não somos bem, bem ruivas, porque um dos nossos amigos acha que o nosso cabelo é mais cor
de ferrugem;
- Agarram-nos por um braço e aproximam o rosto do nosso para que
se veja como é branca a nossa pele;
- O número de pessoas
que nos identifica por a ruiva, cresce à medida que
crescemos;
- Chega sempre o momento em que os velhotes nos acariciam o
cabelo com ar de pena;
- Quando o nosso blog
tem referências, ainda que gráficas, aos ruivos;
- Descobrimos
surpreendidas que ruiva também pode ser
dito com uma ternura imensa e que nessa altura não somos nós as
criaturas em vias de extinção. O resto do universo já desapareceu. Apenas fica
a voz de quem nos chama. Talvez seja por isso que, se fosse permitido escolher
o tom da nossa pele, a cor do cabelo ou a quantidade de sardas que nos povoam o
corpo, a Gaffe não hesitaria em permanecer tal como é.
Há vozes com um timbre que nos faz sentir que somos raras,
mesmo quando a banalidade também é ruiva.